O Leitura de Jogo viajou a Buenos Aires para cobrir in loco o título argentino do Racing, um dos 5 maiores clubes da Argentina. Acompanhamos dois torcedores do Racing no ultimo jogo em casa da “La Acade”, no estádio Presidente Peron, o famoso “El Cilindro”.
Vamos percorrer a história do Racing Club de Avallenada, conhecer a família Pucci, que compartilhou conosco sua vida de paixão pelo Racing, e a apertada vitória do frente o Belgrano, encaminhando seu 18º título nacional, que seria conquistado na rodada seguinte contra o Tigre, como visitante.
Racing Club – o primeiro grande da argentina
Se você é um profundo conhecedor do futebol latino, saberá que o Racing pode, sem dúvidas, ser considerado o primeiro grande clube do futebol argentino. Se hoje Boca Juniors e River Plate são os maiores símbolos de grandeza do futebol argentino, é importante entender que o Racing foi pioneiro em conquistas, títulos e até na organização do futebol argentino, sendo líder no processo de transição do amadorismo ao profissionalismo do futebol no país.
Na Argentina, praticamente existe uma unanimidade em relação aos “5 gigantes” do futebol no país. E o Racing obviamente esta entre eles. São eles: Boca Juniors, River Plate, Racing, Independiente e San Lorenzo.
Único heptacampeão argentino – o surgimento de “La Academia”
O Racing é até hoje o único clube heptacampeão argentino, conquistando 7 vezes consecutivas o título argentino. Foi durante a era amadora, é verdade, entre 1913 e 1920. Mas esse feito jamais foi repetido por nenhum outro clube no país. E desde então, o Racing ficou conhecido como “La Academia del football”, como é chamado até hoje pelos seus torcedores. Durante a era amadora, o Racing conquistou 9 títulos argentinos.
A partir de 1934, já na era profissional do futebol argentino, o Racing conquistou, contando o título de 2019, outros 9 títulos nacionais, somando então 18 títulos e hoje é o terceiro clube com mais conquistas, atrás apenas de River Plate, o maior campeão com 36 títulos e Boca Juniors, que tem 32.
Primeiro clube argentino campeão mundial
O Racing Club também foi o primeiro campeão mundial do futebol argentino, quando derrotou o Celtic, na grande decisão em 1967. Naquela época, o mundial tinha um confronto semifinal entre clubes do mesmo continente e depois a decisão em jogos de ida e volta, nos continentes europeu e sul americano.
O clube argentino eliminou o Nacional do Uruguai e enfrentou o Celtic na decisão. Com a derrota no jogo de ida pelo placar de 1 x 0 e a vitória na volta pelo placar de 2 x 1, foi necessário um jogo de desempate, em campo neutro, na cidade de Montevidéu, no Uruguai, e foi vencido pelo Racing pelo placar de 1 x 0, tornando-se então o primeiro clube argentino campeão do mundo.
A família Pucci guarda até hoje o jornal de novembro de 1967, onde encontramos a detalhada história desta conquista.
A familia Pucci e a paixão pelo Racing
Fabio Pucci nasceu em Buenos Aires, no dia 24 de Outubro de 1966. Filho de Eduardo Pucci, torcedor de Racing, Fabio trouxe sorte para “La Acade” que conquistaria seu 15º título nacional no dia 20 de novembro do mesmo ano, com um empate em 0 x 0 com o Gimnasia y Esgrima de La Plata. Racing campeão argentino de 1966.
Entretanto, não imaginava Fabio o que o destino reservava. O Racing amargaria uma “fila” de 35 anos sem títulos, até que ele mesmo, Fabio, se tornasse pai, e no mesmo ano de nascimento do seu filho Ramiro, o Racing voltou a conquistar o título argentino, em 2001.
Ramiro nasceu no dia 15 de Outubro de 2001 e o Racing conquistaria seu 16º título nacional no dia 27 de Dezembro de 2001, empatando com Velez por 1 x 1.
Fabio e Ramiro puderam ainda celebrar juntos o título argentino de 2014, o 17º título nacional do clube de Avellaneda.
E agora, em 2019, o Leitura de jogo acompanhou pai e filho em jogo decisivo para a conquista do título de 2019.
Racing Club campeão argentino 2019
Em 2019 o azul celeste da “La Acade” voltou a brilhar e o Racing conquista seu 18º título nacional, depois 5 anos da última conquista. Com uma campanha irreparável, o time de Eduardo Coudet mostrou força e competência do inicio ao fim da competição, sendo indiscutivelmente, um merecido campeão.
A campanha
Campeão com uma rodada de antecedência, 76% de aproveitamento, melhor ataque do campeonato e melhor defesa. O Racing foi um campeão inquestionável.
Se bem levou um susto na primeira rodada, quando o time abriu 2 x 0 fora de casa contra o Atlético Tucuman ainda no primeiro tempo e viu o adversário empatar o jogo em 2 x 2 no segundo tempo, o time de Avellaneda não se abalou e após esse jogo, emendou 6 vitórias consecutivas, dando uma clara mensagem que chegaria para brigar pelo título.
A sequência de vitórias foi interrompida com um empate em 2 x 2, em casa com o Boca Juniors. Depois de estar vencendo por 2 x 0, o Racing acabou vendo o rival empatar com dois gols aos 38 e 43 do segundo tempo. E na rodada seguinte, o time ainda perderia para o modesto San Martin de Tucuman.
Ainda assim, o Racing seguiu a passos firmes rumo à conquista. Iniciou uma nova série de 8 jogos invictos, com 7 vitórias e 1 empate, para então perder o clássico frente o River Plate, pelo marcador de 2 x 0 no Monumental de Nuñez. Esta, entretanto, seria a última derrota do time até a conquista do título.
Na reta final, entre os 7 jogos sem derrota, um jogo muito especial foi a vitória contra o arquirrival Independiente pelo placar de 3 x 1, em terreno inimigo.
O jogo Racing 1 x 0 Belgrano – Racing abre 4 pontos de vantagem
O grande jogo que encaminhou o título do Racing e onde o Leitura de Jogo teve o privilegio de acompanhar a família Pucci no estádio “El Cilindro”, foi o jogo frente ao Belgrano, pela 23ª rodada do campeonato, que tem um total de 25 rodadas. Para essa rodada, o Racing chegou na liderança, com 52 pontos e com o bafo na nuca do Defensa y Justicia, que somava 51 pontos. A vitória era fundamental pois um empate, ou uma derrota combinada a vitória do Defensa na rodada, já o deixaria em uma incomoda segunda colocação a apenas 2 rodadas de terminar o campeonato.
Ao entrar no estádio, duas coisas que impressionam: a torcida do Racing, cantando sem parar e a assombrosa proximidade do estádio rival, do Independiente, a 350 metros de distância e com suas luzes acesas (embora não tivesse jogo em andamento), dando uma clara mensagem ao rival de que estão ali ao lado.
Acomodados para o inicio do jogo, a festa foi garantida antes de o primeiro minuto terminar.
Lisandro Lopez, que foi o grande nome do jogo, abriu o marcador logo aos 32 segundos de jogo e decretou aquele que seria o marcador definitivo. O gol relâmpago – que não conseguimos gravar – fez tremer o estádio “El Cilindro” que estava lotado, com 40 mil fanáticos vendo o título cada vez mais próximo.
Na sequência, acompanhamos os sofrimento da torcida (especialmente de Ramiro) que não via a hora do apito final para então explodir de alegria pela vitória alcançada. E o título encaminhado.
No dia seguinte, o Defensa y Justicia perde o jogo para o Patronato, pelo placar de 2 x 0 e vê o Racing abrir 4 pontos de vantagem, faltando apenas 2 rodadas para o final do campeonato.
Empate em Tigre e título garantido
Na seguinte e definitiva rodada, o Racing empata com o Tigre, fora de casa, pelo placar de 1 x 1, e combinado ao empate entre Defensa y Justicia e Union Santa Fe (mesmo marcador, 1 x 1), mantem a distancia de 4 pontos ao vice líder e garante o título, faltando uma rodada para o final do campeonato.
Protagonistas da conquista do Racing
Com o apoio do nosso ilustre torcedor Ramiro Pucci – futuro jornalista esportivo – listamos os 5 protagonistas da conquista do título do Racing Club em 2019.
Lisandro Lopes
Sem dúvida, o grande protagonista dentro do campo, fundamental em todos os sentidos. Foi o goleador do time e do campeonato com 17 gols, sempre no lugar certo, ajudando na defesa quando necessário, descendo para receber e construir o jogo. Muita entrega, sempre encorajando seus companheiros de equipe, tranquilizando a equipe quando necessário. O jogador perfeito.
Leonardo Sigali / Alejandro Donatti
A dupla de zaga. Um muro azul celeste, com excelente percepção de jogo para marcar, perfeitos no um contra um, os donos do jogo aéreo. E também, muita classe para sair jogando com os pés. Infalíveis.
Gabriel Arias
O experiente goleiro de 31 anos foi decisivo na conquista do título. Especialmente na reta final do torneio, apareceu com intervenções que foram vitais para garantir as vitórias, necessárias para a conquista do título.
Marcelo Díaz
O dono do meio-campo. Talvez o melhor meio-campista do futebol argentino nos últimos anos. Precisão nos passes, visão de jogo, as pausas perfeitas na hora certa, a mudança de ritmo no momento oportuno. Um fenômeno.
“Chacho” Coudet
O treinador – que é comparado a Jurgen Klopp e Marcelo Bielsa pela maneira como vê o futebol – manteve uma ideia de jogo firme do começo ao fim, apesar de todas as críticas que recebeu. Ele sabia como manter o grupo firme durante todo o torneio, apesar de algumas alguns tropeços. Ele formou um time que sempre jogou para vencer, com uma atitude impressionante.
A festa do título em dose dupla
A comemoração do título veio em dose dupla. A primeira, logo após o empate contra o Tigre, onde o Racing, com uma rodada de antecedência, assegurou matematicamente o título. Mais de 80 mil torcedores foram para o Obelisco e a festa durou toda a madrugada.
A segunda festa aconteceria no último jogo do campeonato, em casa, no “El Cilindro”, após o empate em 1 x 1 com o Defensa y Justicia, taça entregue e festa para “La Acade”.
Com o título, o Racing Club garantiu sua vaga na Libertadores de 2020, onde sonha em fazer história e voltar a competir em alto nível. O gigante acordou.
Eu sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, e vindo do interior. Um dos milhões de apaixonados por futebol nesse quintal chamado terra. Torcedor do Grêmio no Brasil, do Racing na Argentina e do Millonarios na Colômbia, vivi em 5 países da América Latina e conheci o futebol latino na sua raíz. E aprendi a ler o jogo.